Dois livros, novecentas e dezesseis páginas. Quatro dias.
Carnaval. Alguns dias para se prostrar dentro de casa.
O simples fato de se estar ali, com a cara enfiada em algum livro, devorando palavras e dirigindo o meu próprio filme já seria o bastante para me manter fixo na poltrona por várias horas. É claro, se não fosse o fato de um país inteiro estar em festa, imerso na balbúrdia.
Quatro dias de carnaval verde e cinza, com um pequeno guarda-chuva vermelho na capa.
Foi como uma foto. No fundo, meu irmão se divertia com jogos bizarros no computador, enquanto era possível ver uma pontinha do rosto adormecido de minha mãe, pela fresta da porta. Em primeiro plano, a poltrona, a luminária e a menina que roubava livros, em meu colo, contando-me que Liesel era a única sobrevivente da rua Himmel, em Molching.
Assim permanecemos por longas horas, até que passei a reparar em meu irmão, sentado em frente ao computador. Ele vibrava, lógico, com as vitórias no jogo, mas a cada derrota, sua reação era exatamente como a minha, nessas ocasiões: um leve murro na mesa e uma reflexão sobre como evitar o erro. Por alguns instantes, me enxerguei nele e fui além da aparência física e dos sobrenomes idênticos. Como dissera um professor, fui “na gengiva da coisa”. Perscrutei aquela reação e fiz a pergunta cretina: a gente precisa errar primeiro pra depois aprender a evitar o erro? E quando a gente erra e, ainda assim, comete o mesmo erro logo em seguida? Ele está ficando cada vez mais parecido comigo, não fossem os olhos verdes. Aprendendo com os próprios erros. Tentando conserta-los, antes de um tétrico game over.
UMA PEQUENA NOTA:
Isto cabe como uma luva em mim.
Vinte páginas para o fim do livro. Um momento que merece respeito, o meu ostracismo ministrado por mim mesmo. Só eu, a roubadora de livros e a sombra do cajueiro. Vinte páginas de drama, a minha cara de página em branco e mais alguns parágrafos de tristeza e perplexidade. Uma última nota da narradora: “Vocês humanos me assombram”. Talvez este seja o momento mais triste, fúnebre e soturno: fechar o livro sem por o marcador dentro.
UM DEVANEIO:
Será que existe algum livro que nunca acabe?
O céu era cinza neste momento, estático, morto. O restante era verde, com exceção do tronco avermelhado do cajueiro. Livro fechado, pés na grama e uma olhadela rápida para o rio e a ponte. Um caminhão do ABC. Amanhã é dia trabalho.
Talvez a primeira quinta-feira multicor do ano.
Carnaval. Alguns dias para se prostrar dentro de casa.
O simples fato de se estar ali, com a cara enfiada em algum livro, devorando palavras e dirigindo o meu próprio filme já seria o bastante para me manter fixo na poltrona por várias horas. É claro, se não fosse o fato de um país inteiro estar em festa, imerso na balbúrdia.
Quatro dias de carnaval verde e cinza, com um pequeno guarda-chuva vermelho na capa.
Foi como uma foto. No fundo, meu irmão se divertia com jogos bizarros no computador, enquanto era possível ver uma pontinha do rosto adormecido de minha mãe, pela fresta da porta. Em primeiro plano, a poltrona, a luminária e a menina que roubava livros, em meu colo, contando-me que Liesel era a única sobrevivente da rua Himmel, em Molching.
Assim permanecemos por longas horas, até que passei a reparar em meu irmão, sentado em frente ao computador. Ele vibrava, lógico, com as vitórias no jogo, mas a cada derrota, sua reação era exatamente como a minha, nessas ocasiões: um leve murro na mesa e uma reflexão sobre como evitar o erro. Por alguns instantes, me enxerguei nele e fui além da aparência física e dos sobrenomes idênticos. Como dissera um professor, fui “na gengiva da coisa”. Perscrutei aquela reação e fiz a pergunta cretina: a gente precisa errar primeiro pra depois aprender a evitar o erro? E quando a gente erra e, ainda assim, comete o mesmo erro logo em seguida? Ele está ficando cada vez mais parecido comigo, não fossem os olhos verdes. Aprendendo com os próprios erros. Tentando conserta-los, antes de um tétrico game over.
UMA PEQUENA NOTA:
Isto cabe como uma luva em mim.
Vinte páginas para o fim do livro. Um momento que merece respeito, o meu ostracismo ministrado por mim mesmo. Só eu, a roubadora de livros e a sombra do cajueiro. Vinte páginas de drama, a minha cara de página em branco e mais alguns parágrafos de tristeza e perplexidade. Uma última nota da narradora: “Vocês humanos me assombram”. Talvez este seja o momento mais triste, fúnebre e soturno: fechar o livro sem por o marcador dentro.
UM DEVANEIO:
Será que existe algum livro que nunca acabe?
O céu era cinza neste momento, estático, morto. O restante era verde, com exceção do tronco avermelhado do cajueiro. Livro fechado, pés na grama e uma olhadela rápida para o rio e a ponte. Um caminhão do ABC. Amanhã é dia trabalho.
Talvez a primeira quinta-feira multicor do ano.